Descrição
O “25 de Abril” visto pelos olhos de uma criança.
Pai e filho, confidentes da vida. Uma história de ternura e intimidade, em que se relata o ambiente de uma família no cenário antes do “25 de Abril” em que as “paredes tinha ouvidos” e era preciso guardar segredos. Uma criança a olhar ingenuamente para a revolução e a segurar a antena da rádio para ouvir o povo que nas ruas já gritava “liberdade”.
«Foi com curiosidade e interesse que iniciei a leitura deste conto. Estava longe de imaginar o que iria sentir, de como me sentiria identificado. Estava longe de imaginar o encanto, a força que tem esta celebração de Abril e da liberdade. A primeira leitura causou-me uma forte emoção…»
Prefácio de Manuel B. Martins Guerreiro, que participou na preparação do 25 de Abril de 1974, integrou os vários órgãos do MFA e foi membro Conselho de Revolução.
E do saudoso poeta Joaquim Pessoa.
«Um hino ao amor, mas também à infância, à figura tutelar do pai, e à família como núcleo que preenchia “o ninho”, a casa carregada de ternura e de uma felicidade como que enclausurada dentro de um ovo que viria, mais tarde, a eclodir. Essa recordação da vivência com o pai-herói remonta a um tempo psicologicamente cinzento, frio, demorado, atmosfera bafienta de muitos temores interrompidos aqui e ali por algumas gargalhadas sarcásticas, como chicotes a forçar o andamento dessa besta sem cor e sem alma que a todos tolhia e ameaçava, na época em que “as paredes tinham ouvidos”.
Excerto
“De lancheira na mão e corpo moído, meu pai chegava embrulhado na noite, quando a casa era mais negra, quando o calor do borralho aquecia a sala. Encontrava-me a dormir, quase sempre. Não dava conta dele entrar, simplesmente acordava nos seus braços. Ele dizia que sim, mas era capaz de jurar que não, que não entrava pela porta de casa. Eu achava meu pai enorme, imenso. A porta de casa era pequena para um homem tão grande, dizia eu.
Por isso acreditava que ele entrava pela janela — não que fosse maior que a porta, mas se pela janela entrava o céu também podia entrar meu pai; para mim ele tinha a grandeza do céu imenso em claros dias de Verão.
A cada noite, carregava-me ao colo até à cama e deitava-me ao seu lado. Sentia que ali era um ninho — eu pássaro pequeno, por dentro dos cobertores, enroscado no pássaro grande. O carinho cheirava a lã quando me aconchegava no calor do seu corpo, me perguntava pelo meu dia e me contava pela milésima vez a história de dois irmãos.
“O mais velho pegou no cavalo e num leão e foi à procura de fortuna. Cavalgou dias e dias, até que chegou a um castelo…”
E eu adormecia, embalava em sonhos no lugar mais seguro do mundo, no entrelaçado dos seus braços, no rochedo meigo do seu peito, com as mãos por dentro da sua camisola interior, branca, sentindo-lhe o calor da pele. Nunca voltaria a sentir tamanha segurança em mais lugar nenhum do mundo. (…)”






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